ônibus batido
cabeça no vidro
estilhaça o nascido
agora revivido 
da perene morte
de quem pela vida
contraíra costume 
bactérias
se separando
se separando
      cissiparidade
vivem à
eternidade 
prefácio

nas páginas seguintes
livro-me
girassol corrige religiões
cada ser humano
que nasce no mundo
faz um novo mundo
nascer no humano
quarto denso escuro
Ludwig van Beethoven
retira lágrimas

escadas abaixo

barulhinho engraçado
pano molhado no vidro
distrai a diarista
lágrima

chuva
alivia
nuvens
felicidade

Tio Patinhas nadando no cofre

besouro rolando bosta
vendo avião
morreu atropelado
astronômico

vem do Sol
atravessando cosmos
esverdear pasto da vaca

ruminado segue
da boca
pra teta
pro copo
pra minha
garganta
tornar-se
a própria
Via Láctea
modern life

day by day is
day bye bye day
Que passarinho pensa de avião?
noite

abro guarda-chuva
o menino em mim
vira Batman
luta de classes

hoje Ernesto arriscou a liberdade
foi pra fábrica sem cueca
quando ouço Dorival

o mar
me lo di ca men te
cai em mim
soneca de Sócrates

afinal
agora
garoa
na Ágora
na biblioteca tem
gente em todo lugar
um na Rússia de 1917
outro no ovo de Clarisse
aquele ali nos genes
Drosophila-melanogaster
(...)
apenas a bibliotecária está na biblioteca
não vendo hora de chegar em casa
sozinha no mato
a cachoeira
chora
a vida e a vela

talvez
o segredo
da primeira
seja na segunda
vê-la
a palavra boniteza é uma belezura
espelho

lua luz lembrança
que o sol ausente
ainda chama
o zoo
não vê
o voo
porre

amanhã
manhã
m a n h o s a
evolução

leis protegem leões
chuveiro
chove
chuva
de ontem
a cara que acordo
é igual a cara do
cara que concorda
sem estar de acordo
trama

ela e eu
atando
laços
em nós
demografia

mãe com nova barriga

suas crianças expelidas
engravidam de lombrigas
primavera

vento

pétalas
borboleteiam
medo

em vez de chorar
a criança sorriu

assustando o fantasma
pingo junta pingo
pingo poça d’água
água possa rio
rio possa mar
mar grande poça
aos poderosos

sob vossos olhos
somos grãos de areia

adentraremos pois

aos vossos olhos
Caeiro

da pessoa mestre
do português Pessoa
a ética do império da realidade:
-Vim, vi e vivi!
poemar é pegar a língua
e empregá-la
diferente à realidade

não dizê-la
porém

por bem
beijá-la
relógio quebrado
o ponteiro parado
uma hora acerta
vulcão
a ilha
lava
Sol

estrela do dia
regenerado da boemia
inverno

nos trópicos
inferno
inspirado
distraído
respiro
e o poeminho foge pela narina
versamento positivo

Contudo, ainda me resta o conquanto!
MA

pobre povo sarneyento
sofre em lágrimas
que encharcam
seus lenços
e Lençóis
tartarugas enverrugam a Terra
pela estrada afora

Confúcio me confundiu
carreguei a cruz de Cristo
com Dalai atolei na lama

hoje só
sigo
assoviando sossegado
antípoda

fim da tarde
no céu
Lua e Sol juntos

- O que restou pro japonês?
Science

rato-com-orelha-humana-encravada-nas-costas
fosforesceu
areia
onda
areia
onda
areia
onda concha
pele do olho
tateia
paisagem
acordo
tenho fome
como
tenho sono
água mole dura no furo da pedra
pia pia
se ainda
pode
galinha

pois depois
sem pena
ser galinha
sem pena
na pia
eterna

vide verso
neologística

se há 'comigo'
por que não 'semigo'?
assovio
o som
por um fio
chamam canto
o piu de reclame
que soa da gaiola
reificação

servo serve pra
fazer a ceia que
serve pra saciar
Rei que só serve
pro servo ser servo
outono

as árvores
acrescentam
mais folhas
aos livros
chuva vira tempestade
quando trovão já não sabe
de qual raio veio
idade

completei hoje
25 bois devorados
era vôo
agora voo

circunflexo
bateu asas



espirro

águas d’artifício
alegria

da catraca avistar
o último assento
caviar
(ao Sá)

sagu salgado
sapato só

quem sabe se
pulou por aqui
o Saci-Pererê?
Big Mac

n° 2
vovô no metrô

a memória
bondeia
tão chato fico
as vezes
que só uma caminhada

vou ver se estou na esquina
triste xícara
asa a mais
não espatifaria
(ao Esquilo)

boca a boca
teu 'te amo'
ecoa
na minha
garganta
sendo ar em movimento
trovão é vento?
saber

susto
solução do soluço
pingo na poça
trovoa pedaço
de céu no chão
verão

o menino bobeou
e sorvete
o sol tomou
avião desmanchou
nuvem que a pequena
chamou avião
lunático

na Lua
diluo-me
entre o ser
ou não ser
fico com o ou
contradição

sobre o criado-mudo
eloquente telefone
rio espia nuvens
sedento
pá lavra cultura
camelo
traz no m
oásis
cóccix

quero meu rabo de volta
telescópio

enfim o
infinito